Segundo a Abac (Associação Brasileira de Administradoras
de Consórcios), houve um aumento
de 8,4% no número de cotas vendidas no primeiro trimestre
deste ano, na
comparação com igual período de 2017. Considerando apenas as cotas de
consórcios da categoria serviços, na qual as reformas estão incluídas, o
crescimento das vendas chegou a 78,9%.
Em uma das maiores administradoras de consórcios
do país, a Ademilar, os consórcios para reformas de imóveis já representam 20%
das entregas aos contemplados. “É uma nova realidade. Antes, as pessoas
pensavam no consórcio apenas como uma opção para adquirir o primeiro imóvel. Hoje não”, diz Tatiana Schuchovsky
Reichmann, diretora-superintendente da Ademilar Consórcio de Investimento
Imobiliário.
“A dificuldade de mudar de imóvel ou o simples
fato de a pessoa não querer mudar acabam fazendo a reforma ser bem-vinda. O
consórcio passou a ser um estilo de vida para a pessoa se programar para o
futuro. Ela sabe que o imóvel em que mora precisará de uma reforma mais para
frente, que não necessariamente deve ser feita agora, então adquire uma cota e
espera ser contemplada”, afirma Tatiana.
De acordo com a executiva, houve crescimento de
58% no volume de cotas vendidas pela Ademilar nos primeiros quatro meses de
2018, na comparação com igual período do ano passado. A administradora de
consórcios vende, em média, 250 milhões de reais por mês em créditos em todo o
território nacional.
Como funciona
Quem estiver interessado em comprar uma cota de
consórcio para reformas deve procurar grupos de consórcio de serviços através de uma
administradora autorizada pelo Banco Central. Uma vez contratado o plano, a
pessoa passa a fazer parte de um grupo com outros consorciados e inicia o
pagamento das parcelas que resultarão em cartas de crédito.
Como não há cobrança de juros sobre as parcelas,
os consorciados pagam apenas uma taxa relativa à administração do grupo, que já
está incluída no valor das parcelas. Os sorteios que premiarão um ou mais
participantes por mês são realizados em assembleias, com a participação dos
consorciados.
“É importante que antes de contratar esse
consórcio você tenha clareza do que você vai fazer para poder até estimar o
valor da carta de crédito que vai contratar. É possível contratar consórcios
que vão entregar cartas de crédito de valores diferentes, pequenos e grandes”,
explica o especialista Marcelo Prata, fundador dos sites Canal do Crédito
e Resale.com.br.
“É difícil porque você tem que ter uma ideia de
quanto que a obra vai custar hoje, e então acrescentar uns 30% sobre esse
valor, já que é preciso considerar que a reforma só será feita lá na frente,
quando os preços do serviço deverão estar maiores e o seu imóvel estarå mais
velho, ou seja, poderá haver mais coisas para arrumar no futuro”, diz Prata.
O especialista lembra ainda que sobre o valor da
parcela também poderá incidir o custo do chamado fundo de reserva —um valor que
é cobrado por algumas administradoras de consórcios para compor um saldo de
emergência, que será utilizado para garantir a contemplação de consorciados
mesmo se houver inadimplência de alguns participantes do grupo.
“Também pode ter no valor da parcela o custo de
um seguro. Nem todas as administradoras trabalham com isso, mas é uma proteção
a mais para o consorciado. Caso ele deixe de pagar as parcelas por morte ou
invalidez, seus herdeiros podem quitar o valor do consórcio com a indenização
recebida. Se não houver o seguro, os herdeiros terão de continuar a pagar as
parcelas para não perder todo o valor já pago”, explica Prata.
Para usar o consórcio na reforma, o interessado
deve ser proprietário de imóvel urbano, residencial ou comercial, que esteja
situado em território nacional. Considerando que a reforma não altera as
características do imóvel, não há necessidade de laudo de análise da prefeitura,
exceto se houver ampliação. Os documentos solicitados costumam ser o orçamento
e cronograma físico-financeiro da obra, o memorial descritivo e ART (Anotação
de Responsabilidade Técnica) do projeto e execução.
“Uma coisa que nem todo mundo sabe é que o dinheiro
do consórcio para reforma só pode ser utilizado para pagar a mão de obra, e não
o material. Existem algumas linhas de crédito específicas para a compra do
material de obras, mas que não têm nada a ver com os consórcios. A Caixa
oferece esse tipo de linha, por exemplo”, afirma Prata.
“A prestação de serviço que será paga com o
dinheiro recebido através de consórcio tem que ser formal. O prestador de
serviço tem que ter um CNPJ, tem que ser um profissional com empresa aberta.
Isso porque vai ser feita uma vistoria pela administradora do consórcio. A
administradora vai checar se realmente o serviço está sendo feito da forma que
o projeto indicava”, completa o especialista.
Assim como nos demais tipos de consórcios, se o
consorciado não quiser aguardar ser contemplado ou contar com a sorte, ele
poderá oferecer um lance para adiantar a própria contemplação. Mas, nesse caso,
o lance oferecido deve ter valor ou percentual superior ao dos demais.
“Eu acho que em nenhum tipo de consórcio vale a
pena dar um lance. A taxa de administração que você paga no consórcio é sobre o
tamanho da carta de crédito pretendida. Quando você dá um lance, o valor do
lance é abatido do montante da carta de crédito, mas a taxa que você vem
pagando continua sendo sobre o valor inicial da carta”, diz Prata.
“No caso específico do consórcio para reforma, é
preciso lembrar ainda que ele não cobre o valor total da reforma, só a mão de
obra, ou seja, você tem que pensar que vai precisar desse dinheiro disponível
que daria em um lance para pagar o material. Com o dinheiro na mão, é bem mais
fácil negociar os preços dos materiais que serão utilizados para fazer a obra”,
lembra o especialista.
Quando contemplado, o consorciado pode destinar o
valor acumulado para a reforma que deseja. Vale destacar que algumas
administradoras oferecem maior flexibilidade de uso da carta de crédito do que
outras. É importante que o interessado verifique todas as possibilidades junto
com a administradora antes de entrar em um grupo.
A carta de crédito obtida pelo consorciado pode
ser destinada à contratação de diversos serviços de reforma, como ampliações,
pinturas, instalações hidráulicas, instalações elétricas, serviços de
marcenaria, serviços de manutenção, construção de piscinas, construção de
churrasqueiras, troca de revestimentos e reparos em geral.
A quem é indicado
“O consórcio só é indicado se você não tiver
pressa para realizar sua reforma e não conseguir poupar um dinheiro todo mês
para isso”, diz o consultor financeiro André Massaro, autor do blog “Você e o
Dinheiro”. “A primeira coisa que você tem que ter em mente é que o
consórcio não é um financiamento. Tecnicamente, ele é mais parecido com um
jogo”, diz.
“Se você for contemplado logo no começo, com
muita sorte, seria o mesmo que pegar um ‘financiamento subsidiado’. Já se você
for contemplado só no final, significa que você primeiro pagou para depois
consumir, o que do ponto de vista financeiro não é muito legal”, afirma o
consultor. “Se você estiver decidido a comprar uma cota, é imprescindível
prestar atenção no seguro e no fundo de reserva. Diferentemente de um
investimento, o consórcio não tem a proteção de um FGC [Fundo Garantidor de
Créditos], por exemplo.”
Marcelo Prata, do Canal do Crédito, lembra que
além de pesquisar se a administradora é autorizada pelo Banco Central a vender
aquele tipo de produto e comparar as taxas, também é essencial que o cliente
esteja ciente de todos os detalhes do plano oferecido. “As reclamações sobre as
administradoras de consórcios na internet muitas vezes são distorcidas. As
pessoas acabam confiando na palavra de vendedores terceirizados, sem ler as regras
específicas do produto, e acabam comprando cotas de um consórcio que não seria
o mais indicado para sua necessidade”, diz.
“Não adianta o vendedor garantir que você será
contemplado em um prazo curto de tempo porque isso é impossível de prever. É
preciso pedir todo o material disponível sobre aquele produto e se informar
sobre todas as condições. Só assim você vai conseguir ver se, de fato, quando
você for contemplado, poderá dar sequência ao seu plano de reforma sem nenhum
problema”, completa o especialista.